terça-feira, 22 de maio de 2018

São Paulo, 23 de fevereiro de 1951

As árvores balançavam ao vento, soltando tantas folhas e sujando a rua. Vi isso porque te esperei por algumas horas, não por pensar que era importante pra ti, mas por saber que é importante pra mim.

Tomei um chocolate quente, depois um café. A empada de lá é muito boa, uma pena você não ter aparecido. Eu vi um filhote de cachorro correndo sozinho na rua, tão indefeso, a dona apareceu preocupada instantes depois, eu lhe indiquei a direção pra onde foi o peralta. Vi um carro passando, levando gente importante, um pneu furou e dois seguranças sairam enquanto o motorista fazia a troca.

Uma dona passou com um vestido de festa, ia para um ponto de ônibus e parecia atrasada, pois olhava sempre ao relógio. Então o cheiro da torta de morango trouxe minha atenção de volta ao balcão. Pedi um pedaço e pensei em você experimentando.

Eu fiz a minha parte, te esperei o quanto pude, mas o pouco de orgulho que me restara me levou pra casa. Não te escrevo para prorrogar a esperança, só precisava te dizer como foi o último dia em que pensei em ti.